Olhando os noticiários, fica difícil não se desanimar com o cenário da economia atual, não é mesmo? É aumento dos juros e impostos para cá, crescimento da inflação para lá, resultados negativos no varejo acolá e assim por diante.
Mas nem tudo é tão ruim como parece! É preciso ter esperança e entender que até mesmo a crise econômica pode ser um sinal da evolução.
É o que garante Alberto Serrentino, consultor com mais de 30 anos de experiência em varejo e consumo. Serrentino é autor de diversos livro e artigos e em sua mais recente obra, intitulada Varejo e Brasil: Reflexões Estratégicas, analisa o desenvolvimento do varejo no Brasil a partir dos seguintes ciclos:
“A visão de ciclos permite isolar as oscilações e comportamento de curto prazo para que se compreendam processos de transformação estrutural. Assim, as empresas podem adequar sua estratégia e definir prioridades de gestão de forma mais estruturada”, explica o autor.
De acordo com o especialista, a cada ciclo, o mercado brasileiro teve crescimento acumulado e avançou em seus patamares de maturidade e competitividade. Na obra, ele explica que no atual momento (ciclo de maturidade), o varejo terá crescimento moderado, e que nesse período o foco deve ser em aumentar a produtividade e investir mais no desenvolvimento dos profissionais.
Conversamos com Serrentino para entender melhor os assuntos abordados no livro Varejo e Brasil: Reflexões Estratégicas. Acompanhe.
Em geral, do que se trata o livro, o que o leitor pode esperar encontrar nele?
Alberto Serrentino: Eu procurei compartilhar minha visão sobre o varejo brasileiro neste livro, indicando um modelo para construção estratégica de empresas do setor. Além disso, também faço algumas reflexões sobre os principais temas que devem desafiar o varejo no futuro.
Estamos no ciclo da maturidade em que, segundo você, deve haver um foco maior no aumento da produtividade, da eficiência, e um melhor uso de ativos e recursos. O que isso significa para o pequeno varejista?
AS: Significa que as empresas terão que extrair mais de seus recursos e ativos. Isso passa por melhoria de processos, controles, capacidade analítica e gestão de pessoas. Além disso, o uso inteligente de tecnologia e de ferramentas de gestão e a maior capacidade de planejamento e de tomada de decisão baseada em indicadores e análise são ações que farão com que as empresas aumentem seu nível de competitividade.
Quais são os principais pontos que os pequenos varejos precisam trabalhar para conseguirem sobreviver a esse momento de instabilidade econômica?
AS: Em primeiro lugar, é preciso manter a frieza e analisar o negócio detalhadamente, analisando mudanças no perfil de demanda, comportamento de clientes, desempenho de lojas, produtos e pessoas. A prioridade deve ser geração e proteção de caixa e liquidez, que garantem a sobrevivência. Devem-se renegociar todos os contratos, começando pelos de locação, e aproximar-se dos fornecedores. Por fim, é fundamental também ser transparente com a equipe, mantendo seu grau de otimismo e engajamento.
Além da busca pela otimização do serviço prestado, há oportunidades de crescimento nesse cenário adverso? Como identificá-las?
AS: Há oportunidades e há empresas crescendo. A crise não é homogênea, existem mercados, segmentos e empresas com melhor desempenho. As oportunidades podem estar no ambiente externo e na gestão. A empresa precisa entender melhor o momento dos clientes e mergulhar com a equipe na busca de oportunidades para aumentar a produtividade e a captura de espaços.
Há algo que o varejo possa tirar de positivo dessa queda nas vendas?
AS: Sim, há possibilidade de redução em custos de locação, renegociação de contratos, reciclagem de equipes e até mesmo redução de concorrência. As empresas que sobreviverem colherão os benefícios desta crise.
Se o varejo busca maior produtividade, como os profissionais podem se antecipar a esse processo para manter suas posições no mercado?
AS: Sendo proativos, indo além de suas funções, sendo solidários com o momento das empresas e ajudando na identificação de oportunidades – internas e externas.
Estamos passando por momento turbulentos também na área governamental do país. Acredita que as mudanças no cenário político poderiam influenciar o crescimento econômico e, com isso, as vendas do varejo?
AS: A retomada do crescimento depende da superação da crise política e de uma agenda que reestabeleça a confiança (por parte de investidores, empresas e consumidores) e permita ao país voltar a crescer. Independentemente disso, crises são cíclicas e, em algum momento, são superadas. O varejo poderá ter queda temporária, mas ele deve voltar a crescer e o processo de amadurecimento e aumento de competitividade vai continuar.
Neste momento, qual é o papel do atendimento ao cliente para o varejo físico?
AS: É muito importante, as pessoas comprarão em lojas físicas por opção e farão isso para ter experiência, contato físico com produtos, experimentação e possibilidade de interação com pessoas. O atendimento é um fator de atração para as lojas físicas.
Quais são os legados que essa crise política e econômica que estamos passando pode deixar para o varejista?
AS: Um salto de eficiência e produtividade, ajustes nos mercados de trabalho e imobiliário e empresas mais enxutas para voltarem a crescer de forma mais lucrativa.
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